11.10.11

Vou-te "desamigar" edazima

Por Sérgio Soares, publicado em 8 Out 2011 - 03:00




"Edazima! Não é gralha. Leia ao contrário (Amizade). Muitas vezes, para não dizer quase sempre, não atribuímos o devido valor às amizades e aos nossos amigos(as). Damos as pessoas e as coisas por garantidas, não questionamos, não avaliamos as amizades e catalogamos os amigos sob o mesmo rótulo. Amigos verdadeiros, amigos de ocasião, amigos da onça, amigos de Peniche, amigos do FaceBook (onde alguns coleccionam largas centenas de “amigos”). Hoje em dia, todos são nossos “amigos”, por grosso e atacado.
No Pequeno Príncipe, Antoine de Saint--Exupéry diz: “Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas.” Não se fazem amigos impunemente. Isso descobre-se tardiamente, com toda a crueza, em circunstâncias trágicas.E no entanto, com a velocidade da vida moderna, com as dificuldades associadas ao viver nas grandes cidades, vamos deixando de cultivar os amigos. Os verdadeiros. Optamos por fazer amigos virtuais nas redes sociais. É mais fácil e cómodo. Até os podemos remover cirurgicamente, sem eles saberem. Esses amigos podem ser “desamigados”, sem os dramas associados a qualquer corte de relação interpessoal.Confúcio terá escrito que devemos ir amiúde a casa dos nossos amigos para não deixarmos que a erva cresça no caminho e obstrua a nossa ligação.Sabemos, quando algo de mau acontece abruptamente, que um verdadeiro amigo só se conhece na escassez, porque na abundância a quantidade de “amigos” floresce e ficamos extasiados com tal profusão de aduladores.Os chineses têm provérbios milenares sobre tudo e também sobre amizade. “Muitas vezes, não temos tempo para dedicar aos amigos, mas para os inimigos temos todo o tempo do mundo!” Quem não se reconhece pontualmente na afirmação?Numa época conturbada de crise económica e social profunda, algumas pessoas tendem a agir, na chamada luta pela “sobrevivência”, guiadas apenas pelo egoísmo. Mas como a actual crise é também de valores, e ultrapassa os problemas económicos e sociais, já nada é sagrado. A amizade, último reduto das relações humanas, transforma-se em mera ”commodity”, simples bem transaccionável, como tantos outros. Esses “amigos” são, alegadamente, importantes no frenesim diário, para utilização em troca de favores e “cunhas”, dependendo da importância e das funções exercidas. Mas não é deste tipo de “amizade” que me vou ocupar. A minha reflexão – inconsequente - é sobre a verdadeira amizade. Ou melhor, sobre a perda de amigos em circunstâncias trágicas e repentinas, porque nunca estamos preparados para lidar com a morte, muito menos dos que nos são muito chegados.Naturalmente, ao longo da vida, tive vários amigos. Muitos perderam-se pela distância geográfica, espalhados por diferentes continentes, e pela rarefacção de contactos. Outros conservam-se eternos, estejam onde estiverem. No reencontro, a sensação é a de que nos separámos no dia anterior.Um desses amigos enviou-me há dias uma mensagem onde se lia: “As amizades são como as mamas! Há as grandes, as médias, as pequenas e as falsas!”Entre os amigos que fiz há dois grupos, cada um composto por três elementos, que me tem acompanhado há dezenas de anos. Embora em ambos os grupos todos os elementos se conheçam e estimem, esses amigos não tem relações de amizade profunda entre si. Sou o único traço de união. Portanto, contas feitas, no total tenho quatro grandes amigos. Corrijo, tinha. Um partiu e deixou--nos vazios e incompletos.Menciono-o para sublinhar que, mesmo entre grandes amigos, há subtis graduações de amizade, digamos assim. Gostamos mais de uns por isto e de outros por aquilo, mas não abrimos mão de nenhum. Os amigos completam-nos.Constato também que, entre grandes amigos, raramente o convívio é alimentado por conversas pretensamente sérias ou eruditas. Pelo menos durante muito tempo. Em geral, não os encontros de velhos amigos, o nonsense e a parvoíce dominam, porque, como escreveu George Santayana, “o nonsense só é tão bom porque o senso comum é tão limitado”.Os amigos são a planície onde nos esparramamos deliciados, livres e sem receio de julgamentos de carácter precipitados. Com um amigo podemos sentar-nos em silêncio, bebericar e fumar, sem dizer palavra. “Está-se bem!”, como se diz por aí. É o que faço por vezes, sozinho, num bar qualquer, com o meu amigo Rui sentado em frente, sempre presente."

Concordo plenamente, o facebook ilude-nos, achamos que estamos sempre em contacto com os nossos amigos, mas não, não estamos. Com o passar do tempo começamos a fazer a distinção entre dois tipos de amizades: as amizades que com o tempo se foram apagando e as amizades que, apesar de meses, anos, continuam intactas.  As amizades que, apesar do tempo, prevalecem, como refere o autor No reencontro, a sensação é a de que nos separámos no dia anterior. Para mim esse é um dos aspectos que difere uma Amizade de uma "amizade" esse, e o silêncio que quando existe não se torna constrangedor.

É triste sentir que algumas amizades se calhar não são tão amizades como idealizávamos há anos, mas o que importa é as verdadeiras amizades, essas existirão SEMPRE.

P.S - Encontrei este jornal por acaso na estação de comboios e foi por acaso que o comecei a desfolhar, gostei imenso, tem autores muito interessantes e a escrita é super acessível. 

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